Comunicações, Andrés Leonardo Padilla

“Frente a outras amizades canídeas”: sobre as ilhas afortunadas e os monstros caninos no corpus nietzschiano

Andrés Leonardo Padilla Ramírez
Tradução de Hugo Vedovato

A filosofia nietzschiana da navegação (nos) lança incessantemente na inquietação dos deslocamentos e de outros encontros. As relações caninas daquela odisseia de Argos (e a própria Odisséia como paradigma do Heimat: da identidade e do retorno garantido para casa) ou do poodle schopenhaueriano (e do amor metafísico e compassivo que o atravessa) provavelmente serão suspensas pelos aventureiros navios nietzschianos.

Se os ‘últimos homens’ – os criticados e desprezados por Zaratustra – proclamarem e gritarem o seu lema norteador: ‘Tudo por mim’ (desejo de propriedade e ganância, vontade arrogante de se apropriarem do que amam: “ganância e amor (…) poderiam ser o mesmo impulso nomeado duas vezes”), talvez se possa afirmar que com Zaratustra é possível abrir outros horizontes para (des)habitar com os vivos – e também com os amigos canídeos.

A morte de Deus é, por sua vez, a impossibilidade do jeito-de-ser-cão como “animal piedoso e religioso”, e talvez a abertura para possibilitar-pensar-emergir de outras formas possíveis, estranhas e perturbadoras de ser-amar-estar com os cachorros, com o animal. Monstro canino e marinho que Zaratustra ama; o outro cão de fogo que, como um leão, ri e que “fala verdadeiramente do fundo da terra”.

*Image: Maurie Laurencin, Les Biches, 1923.

You may also like...