Larissa Schip
Se te perguntarem o que você sente pela sua namorada, o que você diria? O quanto a ama e como ela é a mulher da sua vida? E se te perguntarem o que sente pela sua mãe ou pelo seu pai? Você falaria em amor e cuidado? Falaria de gratidão ou seria sobre revolta? E se te perguntarem o que você sente pelo seu irmão? Você falaria o quanto são conectados ou ainda sobre como não tem uma relação muito próxima?
E se a pergunta for em relação ao que você sente por qualquer um dos seus amigos, a resposta seria diferente em relação ao amigo X ou Y?
Fala ai para mim, o que você sente por fulano?
Os caiçaras comeram minhas galinhas
Os humanos se acham no direito de escravizar.
Na relação com os animais, depois de escravizar, eles comem.
Por quê?
Vinho no copo americano
Temos uma ideia pronta do afeto que sentimos pelas pessoas. Eu sei o que devo sentir pelos meus amigos, pela minha namorada, pela minha mãe. Mas o que eu realmente sinto?
Comemos galinhas. Por que podemos? Por que sempre foi assim? Galinhas sentem afeto? Apenas animais racionais podem sentir afeto? Então por que não conseguimos explicar racionalmente o afeto que sentimos uns pelos outros? Seria possível quantificar emoções? Quando o médico pergunta de 1 a 10 qual seu nível de dor, você realmente sabe a resposta?
Galinhas anarquistas é um vídeo que revela princípios anarquistas a partir da perspectiva da relação animal. O vídeo propõe uma viagem, uma busca por um devir-animal. No vídeo percorremos diferentes regiões para encontrar galinhas. Em paralelo, uma conversa entre duas pessoas que tentam sintetizar o que é o afeto que sentem uma pela outra, uma relação pouco provável que começa com uma determinação familiar – já que eles são primos com uma considerável diferença de idade entre eles (7 anos). Não são pessoas que correspondem às obrigações familiares, então tudo nos levaria a crer que um deveria ser distante do outro.
Durante a conversa fica claro que há aí uma impossibilidade: descrever um sentimento acaba por criar uma racionalização de sua vivência; os próprios primos percebem que o sentir corresponde a uma outra linguagem, a uma linguagem que não pode ser descrita por palavras.
No vídeo, em outro momento, dois cachorros repetem a dualidade das pessoas interrogadas; mais avançados do que os humanos, o diálogo corporal é imediato entre os cachorros.
Quanto às galinhas, à medida que os humanos se aproximam de suas conclusões, elas vão se somando a eles, manifestando a coexistência entre os animais humanos e não-humanos. Estas galinhas, apesar de estarem presas em um território específico, estão livres em suas relações animais. Por fim, a discussão sobre o afeto chega à única conclusão possível: as galinhas correm como quem tem acesso à liberdade porque o afeto é animal e não racional.
*Photo: Larissa Schip, Galinhas Anarquistas