By Daniel Verginelli Galantin & Thiago Fortes Ribas, in: É – Revista ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA, v.2, n.23, 2020.
Resumo
A partir do pano de fundo da gestão política da pandemia de COVID-19, este artigo visa apresentar e discutir a noção foucaultiana de biopolítica articulando esta não apenas à questão da gestão política da vida, mas também com a especificidade de uma abordagem arqueo-genealógica. Neste sentido, destacamos a função da história e da análise do discurso na construção de um diagnóstico do presente, o que ajuda a destacar a especificidade do pensamento foucaultiano. Sustentamos hipótese de que a abordagem foucaultiana da biopolítica necessita de ajustes para a compreensão da gestão brasileira da pandemia. O principal ajuste seria a análise dos efeitos de centenas de anos de escravidão na sociedade brasileira. Contudo, o pensamento foucaultiano permite enxergar as racionalidades estratégicas de discursos que aparentam ser apenas irracionais, absurdos ou notícias falsas, os quais foram importantes no caso brasileiro. A exposição de milhões de pessoas aos riscos de contaminação é compreendida enquanto a radicalização de um corte biopolítico, constituído de modo sócio-histórico, que separa vidas que merecem ser protegidas de vidas que podem ou devem ser expostas ao risco de morte e outras decorrências da contaminação.
*Ato da ONG Rio Paz na praia de Copacabana (RJ) em homenagem aos mortos pela Covid-19.