O que nos faz pensar, Carolina Langnor

O QUE EU PHALO LHE PERTURBA?

Carolina Langnor*

O que eu falo lhe perturba?

O que lhe perturba?

O que você tem a dizer?

Quer que eu fique em silêncio?

Nenhuma palavra, por quê?

Quem é que pode falar?

Quem aqui pode falar o quê?

Eu não posso? Só você?

Quem você pensa que você é?

E o que você pensa de mim?

Então você pensa que eu sou assim?

Você só queria que tudo fosse perfeito?

E não pode ser nada do meu jeito?

Só quer que eu seja legal com você?

Você quer que eu gema? Alto ou baixo?

Você quer que eu lhe tema? Gritos ou lágrimas?

O que você quer?

Um pouco mais à direita? Um pouco mais para cima?

Tudo no lugar?

Você me quer? Quer quantas?

Aquela dali? Aquilo lá?

Você não quer parar?

Posso querer também?

O que é que eu posso fazer para lhe ajudar?

Ah, eu só preciso lhe escutar?

E o que eu faço com a minha língua, só mexo quando você mandar?

Eu posso escrever? Tudo bem se eu digitar?

É muito barulho para você?

E se eu só pensar? É quieto, não é?

Mas você precisa mesmo saber o quê?

Precisa ter a certeza de que eu não sou uma ameaça para você?

E como você quer que eu lhe acalme?

Que tal você me falar o que lhe perturba?

Ah, nada disso é problema seu?

Quer dizer que o problema, afinal, sou eu?

Não? Só o que eu falo?

Quer dizer que falo demais? Que passei dos limites?

Quais são os limites?

Já se cansou de me avisar?

Já se cansou de mim?

E o que vai fazer comigo se eu continuar?

É mesmo? Vai me colocar no meu lugar?

E onde é, hein? Não tá sabendo que me mudei?

Por acaso você tem medo do que eu sei?

Sabia que é por isso que eu não deixo ninguém me calar?

Achou que era você quem sabia mais, não é?

E por que você está tão desiquilibrado?

Você acha que não está?

Acha apenas que é mal amado?

Acha que a culpa é minha?

Acha difícil falar em culpados?

Acha difícil falar?

Acha difícil me ouvir?

Que difícil se achar agora, não é mesmo?

Por que raios não me calo?

Ainda não lhe falaram?

Eu falo.

*Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná.
Pesquisadora do LABIN/UFPR – Laboratório de Investigação em Corpo, Gênero e Subjetividade na Educação.

Image: Marlène Dietrich

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